Antes de conhecer o Dodô já conhecia seus sambas, isso porque fomos "adversários" em disputa de samba enredo e em um festival de sambas inéditos. E dali nasceu o meu respeito por esse malandro, cantando seu samba "Quem pode pode, quem não pode..." em parceria com Paulo Silva. Mas os nossos caminhos só vieram se cruzar uns 3 ou 4 anos depois por intermédio do meu "irmão" Peterson Lima. Aliás o Dodô também conheceu meus sambas antes de me conhecer, inclusive ele sempre perguntava ao Peterson se esse parceiro dele (que era eu) existia realmente, porque na época eu estava meio afastado das rodas de samba.
Dodô é um malandro carismático, que cativa todos ao seu redor, pelo seu caráter, sua bondade e simpatia. É daquelas pessoas que te conquistam pela sinceridade, pelo aperto de mão e abraço verdadeiro.
Nossa amizade começou por volta do final de 2007 para 2008 quando nos encontramos no saudoso Projeto da Vila Formosa. Ali Dodô chegou e conquistou à todos, sacou logo uma brasa da sua gaveta e cantou "A dor de uma saudade", que virou um dos sambas mais cantado lá na roda de samba e que depois venho ser gravado pela Academia do Samba da Zona Leste.
Começamos a frequentar a Vila Formosa todas as Quartas-Feiras, e entre os copos de cerveja, sambas inéditos, boas conversas e ao lado de muita gente boa nossa amizade foi se fortalecendo.
Nossa primeira parceria foi um samba chamado "Boicote de Amor", uma letra que o Dodô me passou com seu jeito humilde, pedindo que eu colocasse uma melodia porque gostaria de ser meu parceiro. E para mim foi um grande honra, ganhar mais um parceiro musical talentoso e competente.
Daí pra frente começamos a frequentar várias rodas de samba em São Paulo. Dodô sempre parceiro e generoso atendendo a todos os meu chamados para prestigiar as várias rodas de sambas da cidade. Nosso conhecimento musical e humano foi crescendo e Dodô se tornou meu principal parceiro de boemias e de copo, por onde compartilhamos vários momentos de alegria, colecionando vários amizades em cada terreiro que pisamos.
Dodô é um ser humano na melhor concepção da palavra, é um cara de bom coração, que sempre ajuda ao próximo, que faz o bem sem ver a quem. É homem de família, e que não desfaz de ninguém, em nossas caminhadas já vi Dodô tratar com a mesma igualdade mendigos, advogados, drogados, brancos, negros, ricos e pobres, sem fazer distinção nenhuma, apenas valorizando o ser humano, sem julgamento, compartilhando um abraço, um aperto de mão, um trago de cachaça ou simples sorriso. É também um grande defensor dos animais, na época em que eu o conheci tinha uns 4 cachorros em sua casa, todos tirados da rua, do qual ele trata com todo carinho e amor.
Em todos esses anos de parceria já fizemos uns 10 sambas, alguns ainda nem foram cantados na rodas de samba. Dentro todos esses sambas, um dos que considero ser nossa melhor parceria chama-se "Dá o meu Boné", uma gíria dos tempos de adolescente do Dodô que ele transformou numa primeira bacana com levada de samba de terreiro. Me lembro como se fosse hoje, estávamos saindo de uma festa de Aniversário do Samba da Maria Cursi, e ele me cantou o samba, não perdi tempo e memorizei a primeira e dias depois finalizei o samba. Ele gostou da segunda e começamos a cantar nas rodas de sambas por onde passamos.
Dodô tem um jeito de nostálgico de compor e cantar, coisas que ele traz da sua infância e mocidade e passa para o papel com grande maestria. Suas letras tem dosagens cômicas, românticas, nostálgicas e sociais que primam pela boa escrita e pela melodia espontânea, sem muitos coloridos e enfeites, mas de beleza incomparável.
Tenho muito orgulho de ser parceiro desse malandro, não só nos sambas, mas em dividir as coisas da vida, no qual me sinto mais um aluno do que parceiro, porque nesses anos de nossa amizade venho aprendendo com ele a ser uma pessoa melhor.
"Dodô, Dodô...amigo, parceiro, poeta, sambista e compositor". (trecho do samba "
Nobre Defensor do Samba" que fiz junto com Peterson Lima em homenagem ao Dodô)
DÁ O
MEU BONÉ
(Dodô
Andrade / Anderson Alves)
Tom: D
(Ré Maior)
Se do
meu amor perdeste a fé
Se
queres me punir a toda hora
Resolvo
tudo isso agora pois é
Dá o
meu boné que eu vou embora
Dá o
meu boné que eu vou embora
Passado
é museu é pré-história
Se não
esqueces um instante o que passou
Sua
ladainha me cansou
Rompeu
aurora
Dá o
meu boné que eu vou embora
Dá o
meu boné que eu vou embora
A sua
atitude só me apavora
Você
não me ilude
Sei
que estás mudada e não é de agora
Já
pedi em oração pra São Jorge
São
Sebastião e também pra Nossa Senhora
Dá o
meu boné que eu vou embora
Dá o
meu boné que eu vou embora
A
desconfiança no teu ser aflora
Se um
amor vai mal
A
insegurança o leva a piora
Já
tentei mas não dá
Você
tanto insistiu
Que
até consegui to saindo fora
Dá o
meu boné que eu vou embora
Dá o
meu boné que eu vou embora